Com a finalidade artística ou retórica, o uso das figuras de linguagem torna-se um recurso que possibilita trazer à construção um efeito de sentido renovado. Esse procedimento é alcançado por meio de combinações, assim classificadas:
I – Figuras de palavras (ou tropos);
II – Figuras de pensamento;
III – Figuras de construção (ou de sintaxe).
I – Figuras de Palavras
1) Comparação: é feita de forma “explícita”, ou seja, com uso de conectivo comparativo (como, tal qual, igual)
Minha irmã é bondosa como um anjo.
2) Metáfora: é uma comparação abreviada, associação de idéias ou de característica comum entre dois seres. Nasce por meio da analogia e da similaridade e dispensa os conectivos que aparecem na comparação.
Minha irmã é um anjo.
3) Metonímia: é a utilização de uma palavra por outra, porque mantêm elas uma relação constante ou contigüidade de sentido. Eis os principais casos:
- o autor pela obra: Você já leu Camões?
- o efeito pela causa: Respeite minhas rugas.
- o instrumento pela pessoa: Júlio é um bom garfo.
- o continente pelo conteúdo: Ele comeu dois pratos.
- o lugar pelo produto: Ele gosta de um bom havana.
- a parte pelo todo: Não tinha teto aquela família.
- o singular pelo plural: O paulista adora trabalhar.
- o indivíduo pela espécie ou classe: Ele é um judas.
- a matéria pelo objeto: A porcelana chinesa é belíssima.
- a marca pelo produto: pacote de bombril, fazer a barba com gilete, mascar um chiclete.
4) Catacrese: metáfora tão usada que perdeu seu valor de figura e tornou-se cotidiana, não representando mais um desvio: céu da boca; cabeça do prego; asa da xícara; dente de alho; pé da cadeira.
Também se encontra no emprego impróprio por esquecimento ou ignorância de origem. Isso ocorre pela inexistência de palavras mais apropriadas e dá-se devido à semelhança da forma ou da função: ferradura de prata; embarcar no avião; fazer sabatina na sexta-feira; péssima caligrafia; ficou de quarentena dois meses; fazer uma novena durante esta semana.
5) Antonomásia: é uma espécie de apelido que se confere aos seres, valorizando algum de seus feitos ou atributos.
Leu a obra do Poeta dos Escravos (Castro Alves).
O Rei do Futebol fez mais de mil gols (Pelé).
Você gosta da Terra da Garoa (São Paulo)?
6) Sinestesia: é a figura que proporciona a mistura de percepções, mistura de sentidos.
Tinha um olhar gelado.
II – Figuras de Pensamento
7) Antítese: aproximação de idéias de sentidos opostos.
Tinha na alma um herói e um covarde.
8) Eufemismo: emprego de palavra ou expressão com objetivo de amenizar alguma verdade triste, chocante ou desagradável.
Ele foi desta para melhor.
9) Paradoxo ou oxímoro: é o emprego de duas idéias antagônicas, que se excluem mutuamente, mas que aparecem em uma mesma frase.
“Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente” (Camões)
"Estou cego e vejo " (Carlos Drummond de Andrade)
10) Hipérbole: exagero proposital.
Estou morrendo de alegria. Chorou um rio de lágrimas.
11) Ironia: forma intencional de dizer o contrário do que pensamos.
Ele era fino e educado (comeu como um porco), além de ser gentil (nem disse obrigado).
12) Personificação ou prosopopéia: É dar a vida ao seres inanimados ou dar características humanas aos animais e objetos.
A vida ensinou-me a ser humilde.
13) Silepse: é a concordância que se faz com a idéia, e não com a palavra expressa. Há três tipos:
- de gênero: Vossa Santidade será homenageado.
- de pessoa: Os brasileiros somos massacrados.
- de número: Havia muita gente na rua, corriam desesperadamente.
14) Apóstrofe: invocação ou interpelação de ouvinte ou leitor, seres reais ou imaginários, presentes ou ausentes. Também é conhecido como vocativo.
Ó Deus! Mereço tanto sofrimento?
Tenha piedade, Senhor, de seus filhos.
15) Gradação: aumento ou diminuição gradual.
A paixão crescia, amadurecia, vingava...
III – Figuras de Construção
16) Aliteração: repetição de fonemas idênticos ou semelhantes.
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando. (Guimarães Rosa)
17) Polissíndeto: repetição de conjunções (síndetos).
Não sorriu, nem feliz ficou, nem quis me ver, nem se importou com a partida.
18) Repetição: é a repetição de palavras com o intuito de exprimir a idéia de progressão e intensificação.
Aquela noite era linda, linda, linda.
Enquanto tudo isso acontecia, a garota crescia, crescia.
19) Anáfora: é também a repetição de palavras, porém no início de frase ou versos.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado (Gilberto Gil)
20) Anadiplose: consiste em repetir, no início de uma oração ou de um verso, a última palavra da oração ou verso anterior.
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
verdade é, meu senhor, que hei delinqüido,
delinqüido vos tenho, e ofendido;
ofendido vos tem minha maldade (Gregório de Matos)
21) Pleonasmo: repetição da mesma idéia com objetivo de realce.
São lágrimas de Portugal (Fernando Pessoa)
Inversões
22) Hipérbato: é a alteração da ordem direta dos termos ou das próprias orações.
Da casa saíram as crianças.
Da igreja estava ele na frente.
23) Sínquise: é a inversão muito violenta na ordem natural dos termos, de modo que a compreensão seja seriamente prejudicada.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante.
(As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico.)
24) Anacoluto: é a quebra da estrutura normal da frase a fim de introduzir nova palavra sem ligação sintática com as demais.
Minha vida, tudo sem importância.
Eu, eles diziam que a culpa era minha.
25) Assíndeto: ausência da conjunção entre palavras ou entre orações de um período.
Nunca tivemos glória, amores, dinheiro, perdão.
Vim, vi, venci.
26) Elipse: É a omissão de palavra ou expressão que pode ser facilmente subentendida.
Requer-se seja intimado.
Toda a cidade parada por causa do calor.
27) Zeugma: é um tipo de elipse. Ocorre zeugma quando duas orações compartilham o termo omitido, isto é, quando o termo omitido é o mesmo que aparece na oração anterior. Exemplos:
Na terra dele só havia mato; na minha, só prédios.
Meus primos conheciam todos. Eu, poucos.
Disponível em: www.cursoaprovacao.com.br/.../20080604150956_figuras_de_linguage...Acessado em: 27/04/2014
Figuras de Linguagem
1) Indique qual resposta não possui coerência.
a) Em “Tinha cinco bocas para alimentar”, indica-se a parte pelo todo.
b) Em “Dê-me dois maços”, pede-se o continente (maço) pelo conteúdo (cigarro).
c) Em “Comprei um Portinari”, há uma troca do autor pela obra.
d) Em “O homem ficou sem teto”, indica-se a causa pela conseqüência.
e) Em “Tomavam um Porto”, tem-se o lugar pelo produto.
2) Na frase abaixo, identifica-se qual figura?
“Em matemática, Maria é uma cobra.”
a) metáfora
b) metonímia
c) catacrese
d) antonomásia
e) onomatopéia
3) No trecho: “Dão um jeito de mudar o mínimo para continuar mandando o máximo”, a figura de linguagem presente é chamada:
a) metáfora
b) hipérbole
c) hipérbato
d) ánafora
e) antítese
4) Na frase: “O pessoal estão exagerando, me disse ontem um camelô”, encontramos a figura de linguagem chamada:
a) silepse de pessoa
b) elipse
c) anacoluto
d) hipérbole
e) silepse de número
5) Que figura de linguagem encontramos em “Choram as ondas”?
a) catacrese
b) metonímia
c) hipérbole
d) prosopopéia
e) metáfora
6) Na oração “Ele trazia na cabeleira a neve dos anos” temos qual figura de linguagem?
a) catacrese
b) metonímia
c) zeugma
d) hipérbole
e) metáfora
7) No verso “A poesia – é uma luz... e alma – uma ave...” ocorrem:
a) prosopopéia e hipérbato;
b) metonímia e antítese;
c) hipérbole e eufemismo;
d) pleonasmo e silepse;
e) metáfora e zeugma.
8) Em qual das opções há erro na identificação das figuras?
a) “Um dia hei de ir embora / Adormecer no derradeiro sono.”(eufemismo)
b) “A neblina, roçando o chão, cicia,em prece.” (prosopopéia)
c) Já não são tão freqüentes os passeios noturnos na violenta Rio de Janeiro. (silepse de número)
d) “E fria, fluente, frouxa claridade / Flutua...” (aliteração)
e) “Oh sonora audição colorida do aroma.” (sinestesia)
9) Na frase “Ao pobre não lhe devo nada”, encontramos um caso de:
a) anacoluto
b) pleonasmo
c) elipse
d) zeugma
e) solecismo
10) Na frase, “Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.”, temos aqui a seguinte figura de linguagem, típica do Barroco:
a) antítese
b) pleonasmo
c) elipse
d) hipérbole
11) “Vozes veladas,veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
No texto de Cruz e Sousa temos exemplo de:
a) paralelismo
b) versos brancos
c) eufemismo
d) aliteração
e) hipérbole
12) Indique a alternativa em que o exemplo dado não corresponde à figura de linguagem pedida:
a) Metonímia: Ele gosta de ler Jorge Amado
b) Assíndeto: Vim, vi, venci.
c) Metáfora: “Meu verso é sangue” (Manuel Bandeira)
d) Antonomásia: Estou morrendo de sede!
e) Onomatopéia: “...não se ouvia mais o plic-plic-plic-plic da agulha no pano”. (Machado de Assis)
13) Em todos os itens, as figuras foram classificadas adequadamente, menos em:
a) “A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor” (Vinícius de Morais) – eufemismo.
b) Ele é um bom garfo – metonímia.
c) Ele não tem um níquel – sinédoque.
d) Sobre a mesa, garrafas vazias – elipse.
e) Gosto de ler Camões – metonímia.
14) “E eu morro, Ó Deus! Na aurora da existência.” (Castro Alves)
Indique a alternativa que apresenta a correta classificação de duas figuras que aparecem no verso.
a) hipérbole – anáfora;
b) apóstrofe – antítese;
c) eufemismo – catacrese;
d) gradação – antonomásia;
e) perífrase – pleonasmo.
15) Em “Meu coração não aprendeu nada”, a figura de linguagem é:
a) gradação
b) hipérbole
c) catacrese
d) prosopopéia
e) eufemismo
16) “Mas seu Juveniano foi um vitorioso porque, de um jeito ou de outro, pôs um diploma na mão de cada filho. ”
A oração destacada assinala o emprego de:
a) metonímia
b) metáfora
c) silepse
d) hipérbole
e) pleonasmo
17) Quando você diz que enterrou os pés na areia; que embarcou num ônibus; que chumbou o taco na parede, você recorre a uma figura de linguagem denominada:
a) metonímia
b) antítese
c) hipérbole
d) catacrese
e) metáfora
18) Relacione as duas colunas, classificando as figuras de linguagem de acordo com a seguinte indicação, e assinale a alternativa correta:
(1) Faltaram braços para se concluir a obra.
(2) Não havia em casa um dente de alho sequer.
(3) A madrugada vem sorrindo atrás dos montes.
(4) O carro era um foguete passando por mim.
( ) metáfora
( ) prosopopéia
( ) catacrese
( ) metonímia
a) 3, 2, 1, 4
b) 2, 1, 3, 4
c) 4, 3, 2, 1
d) 2, 4, 1, 3
e) 3, 1, 4, 2
19) Na frase: “O fio da idéia cresceu, engrossou e partiu-se”, ocorre processo de gradação. Não há gradação em:
a) O carro arrancou, ganhou velocidade e capotou.
b) O avião decolou, ganhou altura e caiu.
c) O balão inflou, começou a subir e apagou.
d) A inspiração surgiu, tomou conta de sua mente e frustrou-se.
e) João pegou de um livro, ouviu um disco e saiu.
20) Nos trechos:
“...nem um dos autores nacionais ou nacionalizados de oitenta pra lá faltava nas estantes do major.”
“...o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja.”
encontramos, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
a) prosopopéia e hipérbole
b) hipérbole e metonímia
c) perífrase e hipérbole
d) metonímia e eufemismo
e) metonímia e prosopopéia
21) Observe as letras destacadas nos versos:
“O vento voa
a noite toda se atordoa...”
Na repetição das consoantes você vê:
a) aliteração
b) assonância
c) eco
d) rima
e) onomatopéia
22) Nos trechos:
“O pavão é um arco-íris de pumas”
“...de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira...”
como procedimento estilístico, temos, respectivamente:
a) metáfora e polissíndeto.
b) comparação e repetição.
c) metonímia e aliteração.
d) hipérbole e anacoluto.
e) anáfora e metáfora.
23) Em “Muitos adormeceram para sempre”, há:
a) perífrase.
b) metonímia.
c) eufemismo.
d) apóstrofe.
e) n.d.a.
24) Identifique a alternativa que contém a figura de linguagem predominante em: “Partimos todos os alunos”.
a) pleonasmo.
b) silepse.
c) metáfora.
d) metonímia.
e) perífrase.
As questões 25 e 26 referem-se à estrofe do texto Soldados Verdes de Cassiano Ricardo. Leia-o atentamente para respondê-las.
O cafezal é a soldadesca verde
que salta morros na distância iluminada
um dois, um dois, de batalhão em batalhão
na sua arremetida acelerada contra o sertão
25) O primeiro verso o poema apresenta o emprego da:
a) metonímia
b) catacrese
c) comparação
d) metáfora
e) onomatopéia
26) “que salta morros na distância iluminada”. A figura de linguagem destacada no verso é:
a) prosopopéia
b) onomatopéia
c) metáfora
d) metonímia
e) eufemismo
27) Indique a frase em que há um anacoluto.
a) Não sei se eles viajarão, aqueles preguiçosos.
b) A caçulinha, que tanto amava a seu pai, doeu-lhe muito a separação.
c) O Governo brasileiro, diante desta situação, não poderá deixar de se manifestar.
d) Vocês, que se dizem corajosos, por acaso se ofereceram para participar do salvamento?
e) Quando visito uma casa muito velha, penso nos que a deixaram para sempre.
1-D 2-A 3-E 4-E 5-D 6-B
7-E 8-C 9-B 10-A 11-D 12-D
13-A 14-B 15-D 16-A 17-D 18-C
19- E 20- E 21- A 22-A 23-C 24-B
25-D 26-A 27-B